Segue abaixo o relato da minha participação na primeira meia maratona que fiz em 2005 mais precisamente dia 09/10/2005.
Foi a quinta corrida
que fiz oficialmente sem ter a menor ideia da importância de ter uma preparação
para enfrentar a tal distância de 21 km e sem contar que no final de semana
anterior, achei de juntamente com um grupo de corredores que já eram
experientes, fizer um simulado do percurso.
A largada foi na
Praça Municipal e a chegada onde é hoje o estacionamento que fica ao lado do
Parque dos Ventos, tinha 44 anos e já estava começando a me apaixonando pelas
corridas.
Esta postagem, é um
resgate do que publiquei quando resolvi criar o blog e achei interessante
contar um pouca da história da minha primeira e inesquecível Meia Maratona.
Tenham uma excelente
leitura.
Pode acreditar, já fiz parte do Pelotão de Elite numa meia maratona.
Estava ansioso para
participar da minha primeira meia maratona. Era uma sexta-feira, estava dentro
de um shopping onde, numa badalada loja de departamento e especializada em
material esportivo, seriam entregues os kits para a corrida.
Cheguei cedo para
garantir a ser um dos primeiros atendidos. Indaguei ao funcionário onde estava
sendo entregues os kits.
Gentilmente me
informou dizendo que só começaria às dezessete horas.
Para quem havia
chegado quatorze, um pouquinho a mais ou a menos não faria a menor diferença.
Era a minha primeira
meia maratona e isso não abalara o meu bom humor.
Cravado às dezessete
horas, estava lá. Estava ansioso, ou melhor, mais ansioso.
O primeiro passo era
identificar a numeração numa relação afixada numa parede.78 era o meu número.
Devidamente
identificado, parti para a fila a fim de retirar o meu tão esperado kit. - Sua
identidade e qual o seu número?
Perguntou a simpática
moça.
A identidade já
tinha nas mãos, pois já havia observado o processo com os que estavam a minha
frente e o número disse orgulhosamente. - Número 78A simpática moça
afastou-se do balcão e foi em direção a caixa onde por uma prévia arrumação localizaria
o meu kit.
Demorou um pouco
verifiquei que ela estava a conversar com uma das pessoas responsáveis pela
organização.
As duas partiram em
minha direção.
Pensei o que houve?
Com uma voz serena
ela me disse:
- A numeração de 0 a
100 são para os atletas do Pelotão de Elite.
- O senhor terá que
pegar o seu kit amanhã no hotel onde estão hospedados os demais atletas vindos
de outros estados e países que também pertencem ao Pelotão de Elite.
Isso foi o bastante
para que as pessoas a minha volta direcionassem todos os olhares em minha
direção.
Por alguns instantes
me senti um verdadeiro queniano albino.
Sabia que a
realidade era outra e que algo havia acontecido para que um pobre mortal já na
sua primeira meia maratona, sem nenhum histórico, justificasse tal
classificação.
Como ficaria
complicado explicar a todos os presentes que tinha acontecido alguma confusão
por parte da organização do evento, resolvi sair da loja com a pose de que
estava tudo certo, de que realmente eu era um atleta do Pelotão de Elite.
Não precisaria nem dizer que da sexta para o
sábado tive dificuldades para dormir.
Imaginava-me no aquecimento correndo entre os
atletas dos quais nunca havia presenciado uma chegada ao vivo só pela televisão
enquanto os menos votados estariam depois daquela cerca humana formada por
seguranças para que não invadisse a ala do Pelotão de Elite.
Depois da minha
ciência de que era elite até pegar no sono, tratei de fazer a divulgação para
amigos, parentes, vizinhos e quem mais encontrasse pela frente de que correria
a Meia Maratona da Bahia e que estaria no Pelotão de Elite.
Alguns ficaram
supressos, pois nem sabiam que eu corria e muito menos o que era esse tal de
Pelotão de Elite.
Amanheceu.
Um momento histórico
como esse não poderia deixar de ter testemunhas.
Entramos, eu, minha
mulher e o orgulhoso filho no carro e fomos rumo ao hotel.
Ele também
aproveitando a oportunidade, não poupou esforços em fazer a propaganda entre
amigos e colegas do feito do seu pai.
A caminho do hotel
só pensava. Deve ter uma comissão para me receber, pois um atleta de elite deve
ter um tratamento VIP.
- E esse hotel que
não chega!
Finalmente cheguei.
Na frente do hotel o
portão de acesso aos carros estava cerrado.
Dirigiu-se em minha
direção o responsável pela entrada dos veículos.
- Bom dia.
Falou o distinto
moço
- Bom dia.
- Sou da elite.
Completei de
imediato.
Parecia que era uma
palavra mágica tipo abre-te sésamo.
Prontamente o então
cerrado portão abriu-se para que a família da elite entrasse.
Saí do carro,
percorri alguns corredores, e após algumas orientações tive acesso à sala onde
os kits seriam entregues.
Uma bela moça veio
em minha direção e àquela altura devido ao meu estado de êxtase, todas as moças
eram belas.
- Em que posso
ajudar?
Disse até a então
bela moça.
- Vim pegar o meu
kit.
Para não parecer
arrogante, não mencionei a palavra elite.
Prontamente ela me
pediu um momento e foi chamar outra moça que também até então era bela.
- Bom dia!
Disse ela.
E aí começou o meu
transtorno.
- Bem meu amigo.
- Houve uma confusão
por parte da organização e alguns atletas foram classificados como elite.
- Pedimos desculpas
pelo ocorrido mais o problema será devidamente resolvido.
Mesmo sabendo que
aquela informação era a mais coerente e plausível para justificar a situação,
me senti decepcionado.
Respirei fundo, mais
não muito, pois já estava e pensando que essa respirada já fosse me fazer falta
na corrida de amanhã.
- Bem, e o meu kit?
Perguntei secamente.
Serenamente me
respondeu a não mais bela moça.
- Amanhã o senhor
chega mais cedo e antes do início da corrida me procure para lhe entregar o seu
kit.
Tentando minimizar a
situação, me convidou a participar da reunião em que estavam presentes todos os
atletas que faziam parte do Pelotão de Elite.
Agradeci, dei uma
desculpa que não me lembro qual foi e fui embora.
Não demorou muito
para começar as primeiras cobranças.
Ao chegar ao carro:
- Cadê o kit?
Perguntou o curioso
filho.
Em poucas palavras
expliquei o que havia ocorrido e ficou aquele silêncio.
Observei que não
houve muita surpresa, pois acho que, quem tinha mais se iludido era eu.
A essa altura já
estava pensando na noite que havia perdido e que como teria de acordar cedo
para pegar o diacho do kit, e o melhor que tinha a fazer era ir para casa dormir.
Não faltaram
telefonemas para saber se já havia pegado o kit, se eu cheguei a tirar fotos
com os outros atletas, mas a resposta era sempre a mesma, de que estava
descansando para corrida de amanhã.
No dia da corrida,
como já tinha sido intimado, acordei bem cedo, e talvez, num horário que os
verdadeiros atletas da elite ainda estivessem dormindo.
Peguei o meu kit com
o número 1.830 e na hora marca foi dada a largada.
Sem muita noção de
como me comportar ao longo do percurso faltando aproximadamente uns 7 km tive
que incluir na corrida, trotes e caminhadas e administrar dores com câimbras e
o cansaço.
Lembro-me
perfeitamente que nas proximidades do Praia da Paciência, havia uma ambulância
e que os socorristas vinheram em minha direção e me perguntaram:
- Está tudo bem?
É óbvio disse que
sim e pode acreditar que, esta é a única mentira da história.
Minha classificação
foi 828ª no geral masculino, 140ª na faixa etária de 40 a 44 anos e 30ª na
idade de 44 anos.
1.716 participantes concluíram
a corrida e levei exatos 01h55min34s para completar o percurso.
Registro da chegada
Na minha chegada
pensei sobre tudo que tinha ocorrido e concluí:
Eu também sou do
Pelotão de Elite, pois assim como eles, também completei os 21 km se bem que
com uma boa defasagem de tempo, mas quem liga pra isso.
Por motivos óbvios
não presenciei a chegada desses atletas, mas tenho a certeza de que eles não
tiveram a recepção de seus amigos e familiares reconhecendo o seu esforço.
A medalha eu guardo com muito carinho, pois teve um sabor muito especial, da minha primeira Meia Maratona.
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