segunda-feira, 19 de abril de 2021

Minha primeira Meia Maratona

 

Antes da largada

Segue abaixo o relato da minha participação na primeira meia maratona que fiz em 2005 mais precisamente dia 09/10/2005.

Foi a quinta corrida que fiz oficialmente sem ter a menor ideia da importância de ter uma preparação para enfrentar a tal distância de 21 km e sem contar que no final de semana anterior, achei de juntamente com um grupo de corredores que já eram experientes, fizer um simulado do percurso.

A largada foi na Praça Municipal e a chegada onde é hoje o estacionamento que fica ao lado do Parque dos Ventos, tinha 44 anos e já estava começando a me apaixonando pelas corridas.

Esta postagem, é um resgate do que publiquei quando resolvi criar o blog e achei interessante contar um pouca da história da minha primeira e inesquecível Meia Maratona.

Tenham uma excelente leitura.


Pode acreditar, já fiz parte do Pelotão de Elite numa meia maratona.

Estava ansioso para participar da minha primeira meia maratona. Era uma sexta-feira, estava dentro de um shopping onde, numa badalada loja de departamento e especializada em material esportivo, seriam entregues os kits para a corrida.

Cheguei cedo para garantir a ser um dos primeiros atendidos. Indaguei ao funcionário onde estava sendo entregues os kits.

Gentilmente me informou dizendo que só começaria às dezessete horas.

Para quem havia chegado quatorze, um pouquinho a mais ou a menos não faria a menor diferença.

Era a minha primeira meia maratona e isso não abalara o meu bom humor.

Cravado às dezessete horas, estava lá. Estava ansioso, ou melhor, mais ansioso.

O primeiro passo era identificar a numeração numa relação afixada numa parede.78 era o meu número.

Devidamente identificado, parti para a fila a fim de retirar o meu tão esperado kit. - Sua identidade e qual o seu número?

Perguntou a simpática moça.

A identidade já tinha nas mãos, pois já havia observado o processo com os que estavam a minha frente e o número disse orgulhosamente. - Número 78A simpática moça afastou-se do balcão e foi em direção a caixa onde por uma prévia arrumação localizaria o meu kit.

Demorou um pouco verifiquei que ela estava a conversar com uma das pessoas responsáveis pela organização.

As duas partiram em minha direção.

Pensei o que houve?

Com uma voz serena ela me disse:

- A numeração de 0 a 100 são para os atletas do Pelotão de Elite.

- O senhor terá que pegar o seu kit amanhã no hotel onde estão hospedados os demais atletas vindos de outros estados e países que também pertencem ao Pelotão de Elite.

Isso foi o bastante para que as pessoas a minha volta direcionassem todos os olhares em minha direção.

Por alguns instantes me senti um verdadeiro queniano albino.

Sabia que a realidade era outra e que algo havia acontecido para que um pobre mortal já na sua primeira meia maratona, sem nenhum histórico, justificasse tal classificação.

Como ficaria complicado explicar a todos os presentes que tinha acontecido alguma confusão por parte da organização do evento, resolvi sair da loja com a pose de que estava tudo certo, de que realmente eu era um atleta do Pelotão de Elite.

Não precisaria nem dizer que da sexta para o sábado tive dificuldades para dormir.

Imaginava-me no aquecimento correndo entre os atletas dos quais nunca havia presenciado uma chegada ao vivo só pela televisão enquanto os menos votados estariam depois daquela cerca humana formada por seguranças para que não invadisse a ala do Pelotão de Elite.

Depois da minha ciência de que era elite até pegar no sono, tratei de fazer a divulgação para amigos, parentes, vizinhos e quem mais encontrasse pela frente de que correria a Meia Maratona da Bahia e que estaria no Pelotão de Elite.

Alguns ficaram supressos, pois nem sabiam que eu corria e muito menos o que era esse tal de Pelotão de Elite.

Amanheceu.

Um momento histórico como esse não poderia deixar de ter testemunhas.

Entramos, eu, minha mulher e o orgulhoso filho no carro e fomos rumo ao hotel.

Ele também aproveitando a oportunidade, não poupou esforços em fazer a propaganda entre amigos e colegas do feito do seu pai.

A caminho do hotel só pensava. Deve ter uma comissão para me receber, pois um atleta de elite deve ter um tratamento VIP.

- E esse hotel que não chega!

Finalmente cheguei.

Na frente do hotel o portão de acesso aos carros estava cerrado.

Dirigiu-se em minha direção o responsável pela entrada dos veículos.

- Bom dia.

Falou o distinto moço

- Bom dia.

- Sou da elite.

Completei de imediato.

Parecia que era uma palavra mágica tipo abre-te sésamo.

Prontamente o então cerrado portão abriu-se para que a família da elite entrasse.

Saí do carro, percorri alguns corredores, e após algumas orientações tive acesso à sala onde os kits seriam entregues.

Uma bela moça veio em minha direção e àquela altura devido ao meu estado de êxtase, todas as moças eram belas.

- Em que posso ajudar?

Disse até a então bela moça.

- Vim pegar o meu kit.

Para não parecer arrogante, não mencionei a palavra elite.

Prontamente ela me pediu um momento e foi chamar outra moça que também até então era bela.

- Bom dia!

Disse ela.

E aí começou o meu transtorno.

- Bem meu amigo.

- Houve uma confusão por parte da organização e alguns atletas foram classificados como elite.

- Pedimos desculpas pelo ocorrido mais o problema será devidamente resolvido.

Mesmo sabendo que aquela informação era a mais coerente e plausível para justificar a situação, me senti decepcionado.

Respirei fundo, mais não muito, pois já estava e pensando que essa respirada já fosse me fazer falta na corrida de amanhã.

- Bem, e o meu kit?

Perguntei secamente.

Serenamente me respondeu a não mais bela moça.

- Amanhã o senhor chega mais cedo e antes do início da corrida me procure para lhe entregar o seu kit.

Tentando minimizar a situação, me convidou a participar da reunião em que estavam presentes todos os atletas que faziam parte do Pelotão de Elite.

Agradeci, dei uma desculpa que não me lembro qual foi e fui embora.

Não demorou muito para começar as primeiras cobranças.

Ao chegar ao carro:

- Cadê o kit?

Perguntou o curioso filho.

Em poucas palavras expliquei o que havia ocorrido e ficou aquele silêncio.

Observei que não houve muita surpresa, pois acho que, quem tinha mais se iludido era eu.

A essa altura já estava pensando na noite que havia perdido e que como teria de acordar cedo para pegar o diacho do kit, e o melhor que tinha a fazer era ir para casa dormir.

Não faltaram telefonemas para saber se já havia pegado o kit, se eu cheguei a tirar fotos com os outros atletas, mas a resposta era sempre a mesma, de que estava descansando para corrida de amanhã.

No dia da corrida, como já tinha sido intimado, acordei bem cedo, e talvez, num horário que os verdadeiros atletas da elite ainda estivessem dormindo.

Peguei o meu kit com o número 1.830 e na hora marca foi dada a largada.

Sem muita noção de como me comportar ao longo do percurso faltando aproximadamente uns 7 km tive que incluir na corrida, trotes e caminhadas e administrar dores com câimbras e o cansaço.

Lembro-me perfeitamente que nas proximidades do Praia da Paciência, havia uma ambulância e que os socorristas vinheram em minha direção e me perguntaram:

- Está tudo bem?

É óbvio disse que sim e pode acreditar que, esta é a única mentira da história.

Minha classificação foi 828ª no geral masculino, 140ª na faixa etária de 40 a 44 anos e 30ª na idade de 44 anos. 

1.716 participantes concluíram a corrida e levei exatos 01h55min34s para completar o percurso.

Registro da chegada

Na minha chegada pensei sobre tudo que tinha ocorrido e concluí:

Eu também sou do Pelotão de Elite, pois assim como eles, também completei os 21 km se bem que com uma boa defasagem de tempo, mas quem liga pra isso.

Por motivos óbvios não presenciei a chegada desses atletas, mas tenho a certeza de que eles não tiveram a recepção de seus amigos e familiares reconhecendo o seu esforço.

Família:  Luíza (cunhada), Samuel (filho), Neuza (esposa), Jessie (mãe) e  Nadir (tia)

A medalha eu guardo com muito carinho, pois teve um sabor muito especial, da minha primeira Meia Maratona.

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