Dia 31 de maio de 2009, Av. Jornalista Roberto Marinho, São Paulo capital.
Um dia cercado de muitas expectativas, pois tudo era novidade. Um grande número de pessoas com objetivos diferentes uns correndo 10 km, outros 25 km e a minoria 42 km.
Houve-se um tiro de canhão e a corrida começou.
Largada tranqüila, e lá fui para encarar o desafio num ritmo confortável. Ainda deslumbrado com a festa, lá se foram os primeiros quilômetros cercado por muitas pessoas.
Nas proximidades do km 5 a primeira separação, pois quem foi para correr os 10 km o trajeto passaria a ser outro e silenciosamente desejei felicidades a eles.
Ao dobrar a esquina do Túnel Presidente Jânio Quadros tinha a placa de 38 km embora só tivéssemos corrido apenas 5 km e falei: aguarde-me que voltarei e segui a procura das placas 6, 7, 8...
Rapidamente vieram os quilômetros onze, doze, mas não olhava para o relógio, pois só queria conferir o tempo aos 21 km.
21 km, o relógio marcava 01h38min o melhor tempo que já havia feito em meia maratona e segui em frente. Tudo estava bem.
Repentinamente ao dobrar uma curva e logo após passar pelo um tapete de marcação do chip no Km 24 senti fortes dores na panturrilha e ainda sem acreditar mais ali era o começo de um longo sofrimento.
A muralha dos 30 km havia começado para mim nos 24 km. Parei, fiz um breve alongamento utilizando o meio fio como suporte e segui na esperança de melhorar. No km 25 outra separação e daí em diante só teria como companhia aqueles que se contentavam só com a maratona.
Nos 26 km outra parada e desta vez pensei que não resistiria. Parei, as lágrimas vieram e também a lembrança de tudo que havia passado não só pelos quilômetros que já havia deixado para trás, mas todo o treinamento que fiz as corridas longas e solitárias, o apoio das pessoas o sacrifício da distância dos entes queridos, do filho, a preocupação com a minha mãe e tia que estão em recuperação de enfermidades, o esforço dos parentes que me apoiaram na estadia aqui em São Paulo, o sacrifício financeiro, pois a minha maratona havia começado muito antes do tiro do canhão da largada deste dia trinta e um de maio.
Neste momento se aproximou um casal em uma moto que faziam parte do apoio e me perguntaram se eu estava bem.
Respondi que eram câimbras e fiquei receoso que eles me tirassem da corrida, pois não sabia qual o critério de avaliação, mas felizmente foram embora. Logo, percebi que não estava solitário nessa agonia, outros corredores estavam sofrendo do mesmo problema.
Depois de alguns passos um rapaz de nome Rogério que estava aguardando um corredor para dar um apoio, me perguntou o que estava sentido e respondi que eram câimbras e prontamente ele retirou de um saco uma pasta branca e disse que passasse nas pernas que certamente iria melhor.
Percebendo a minha dificuldade, ele mesmo resolveu passar a pasta e em seguida me de um pacote de bolacha salgada que ajudaria na reposição do sal no meu organismo.
Perguntei o seu nome e disse a ele que registraria o seu apoio no meu blog dando a ele o endereço para que acessasse e deixo aqui registrado a você Rogério os meus sinceros agradecimentos.
Daí em diante foram momentos de trotes e caminhadas de mais alongamentos de mais dores, mas a cada quilômetro ultrapassado a minha força aumentava. Alguns corredores estavam literalmente parados sendo atendidos pelo pessoal de apoio e espero que eles tenham retomado a corrida, pois faltava pouco.
A vontade era grande de alcançar o túnel e me deparar com aquela placa dos 38 km.
E lá estava ela e disse: Eu te falei que me aguardasse! Aqui estou e vou te deixar ai embora a minha vontade fosse de passar por cima dela, mas agora o que realmente importava era em cruzar a linha de chegada.
Após uma leve curva avistei o local da chegada e pensei estou a poucos metros de me tornar uma maratonista.
Nesse momento ao olhar as pessoas que estavam ao lado do percurso da chegada, reconheci a jornalista e maratonista Yara Achôa que me acompanhou por alguns metros e tirou uma foto. O interessante é que conheci a Yara através da leitura do seu depoimento na Revista Contra Relógio quando ela participou da sua primeira maratona. De lá para cá sempre trocamos informações através de email e do blog. Acho que nesse momento ao vê-la estava ali recebendo a minha primeira medalha.
Obrigado Yara pelo apoio.
A poucos passos estava a minha cunhada Graça me aguardando para entregar a Bandeira do Brasil, pois é um gesto que sempre faço em algumas corridas e segui em frente.
Mais adiante aos gritos estava minha querida esposa Neuza que sempre tem me acompanhado nas corridas das quais muitas delas tem sido a força para não desistir e chegar ao seu final e o meu sobrinho Júnior que registrariam os últimos cem metros.
Após cruzar o tapete final mais gritos, e desta vez era meu primo Jailson e sua esposa Nádia que também registraram a minha passagem pelo local da chegada.
Faço aqui um agradecimento especial a Graça, Jailson, Nadia e Júnior que nos deram o suporte necessário desde a nossa chegada a São Paulo, o difícil momento da corrida e o nosso retorno sem esquecer também de Cristiane amiga de Graça que foi a facilitadora para conseguirmos chegar ao local da largada.
A todos vocês o nosso muito obrigado!
4h38min11s foi o tempo líquido que levei para os 42.195 metros, resultado muito além do que gostaria de fazer. Já com a medalha na mão inicialmente me veio o sentimento de frustração acompanhado de choro.
Depois, ao lembrar tudo que havia passado me conformei e valorizei sim todo o esforço e dedicação e que independente do tempo, o primeiro colocado também correu a mesma distância e se ele é uma maratonista eu também eu sou.
Hoje, ao concluir esse meu relato a mensagem que posso deixar é que todos nós temos a capacidade de se superar, de estabelecermos as nossas próprias conquistas, de acreditarmos que somos capazes de sonhar e fazer com que esses sonhos possam se tornar realidade.
Existem muitas coisas nas nossas vidas que quando acontecem pela primeira vez nunca se esquece e essas 4h38min11s ficarão certamente na minha lembrança pelo resto da minha vida.
.
Samuel Pinho