sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Quem foi que nunca deu uma olhadinha?

Todos apostos, adrenalina a mil, ta chegando a hora da largada, e lá se ouve o tiro, ou melhor, o apito.

E lá se vão às mulheres.

Pelo ao menos por aqui, a maioria das corridas as mulheres saem uns 10 minutos antes dos homens.

Todos apostos, adrenalina a mil, ta chegando a hora da largada, e lá se ouve outro apito.

E lá se vão os homens.

O que não é raro acontecer, é que no desenrolar do percurso, acaba-se, alcançando algumas mulheres.

E é ai, que por mais que agente se esforce para se concentrar na corrida, acontecem coisas alheias a nossa vontade.

Sabe-se que a atividade física além de trazer uma melhora acentuada no sistema circulatório e respiratório, as formas do corpo também tende a adquirir linhas bem diferentes daquelas que comumente observamos nas pessoas que apresentam certo grau de sedentarismo.

Ta entendendo, ou quer que desenhe?

Não demorou e comecei a visualizar as primeiras mulheres, ou melhor, as últimas, as que ficaram para trás por não conseguirem manter o ritmo.

Passo por uma, por duas, mais quatro de vez e me deparei com uma que tirou a minha concentração.

Só tinha visto isso em revistas.

Era perfeita, aquele par de músculos como se tivessem me chamando vem, cá, vem cá, vem cá.

Olha, que nos regulamentos das corridas sempre tem uma questão que se refere à falta de respeito para com os outros atletas e até pessoas que estejam assistindo o evento.

O regulamento não se referia a poder dar ou não uma olhadinha, e ai percebi que estava legalmente coberto.

Continuei correndo, correndo. Até ter passado pelas quatro, me lembro que estava no quilômetro três, mas confesso que a essa altura da corrida já estava meio desorientado.

Era simplesmente sen-sa-ci-o-nal.

Pensei em adiantar o passo para ver o rosto da deusa, mas pensei, e se ela não conseguir me acompanhar?

Há menos, que eu simule algum incômodo, e reduza o ritmo.

Já estava descontrolado, acelerei, me aproximei e decidi: Vou encarar, vou encostar e puxar uma conversa.

E já agora reconhecidamente desorientado, falei:

- Olá tudo bem?

- Tô correndo bem. Já alcancei até a atleta da elite feminina!

Consegui um tímido sorriso.

Continuei falando:

- A corrida ta boa.

O ta boa, já por conta de certa malícia.

- Está gostando da corrida?

Perguntei:

Acho que a corrida já estava chegando ao seu final e o papo foi rolando, rolando e alimentado imaginações pelo ao menos da minha parte.

Até que comecei a sentir uma um puxão insistente e que aumentava de intensidade.

Mais logo agora!

O puxão insistia e agora aliado a uma voz que começou um pouco distante e que foi ficando cada vez mais próxima e bem forte.

- Acorda, acorda.

- Você vai pra corrida ou não?

- Já ta passando do horário.

Abri os olhos e vi, a minha bela e querida esposa.

Neste dia, para minha felicidade, as mulheres e os homens saíram no mesmo horário.

Minha esposa me acompanha em todas as corridas e por ela, em algumas dessas corridas, foi o único e verdadeiro motivo para que eu completasse a prova.

Qualquer semelhança, com certeza, será uma mera coincidência.


Autor: Samuel Moreira

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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Novo recorde na maratona

Haile Gebrselasie

O etíope Haile Gebrselasie bateu o seu próprio recorde em maratonas. Neste domingo na maratona de Berlim ele completou o percurso de 42.195m com o tempo de 2h03mim59s.

Uma curiosidade é que após a vitória, comentou que tinha dúvidas com o seu desempenho visto que havia levado uma semana sem treinar devido a um pequeno problema no músculo da panturrilha.

Já pensou se ele não tivesse esse probleminha?

No feminino a classificação na maratona de Berlim foi à seguinte:

1 - Irina Mikitenko da Alemanha - 2h19min19s.
2 - Askale Magarsa da Etiópia - 2h21min31s
3 - Helena Kirop do Quênia - 2h25min01s.

Acompanhe a evolução dos recordes em maratonas onde o brasileiro Ronaldo da Costa deu a sua colaboração.

2h08min13s - Alberto Salazar (EUA), 1981
2h08min05s - Steve Jones (GBR), 1984
2h07min12s - Carlos Lopes (POR), 1985
2h06min50s - Belayneh Dinsamo (ETI), 1988
2h06min05s - Ronaldo Da Costa (BRA), 1998
2h05min42s - Khalid Khannouchi (MAR), 1999
2h05min38s - Khalid Khannouchi (EUA), 2002
2h04min55s - Paul Tergat (QUE), 2003
2h04min26s - Haile Gebrselasie (ETI), 2007
2h03min59s - Haile Gebrselasie (ETI), 2008
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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Eu já fui elite.

Pode acreditar, já fiz parte do Pelotão de Elite numa meia maratona.
Estava ansioso para participar da minha primeira meia maratona. Era uma sexta-feira, estava dentro de um shopping onde, numa badalada loja de departamento e especializada em material esportivo, seriam entregues os kits para a corrida.
Cheguei cedo para garantir a ser um dos primeiros atendidos. Indaguei ao funcionário onde estava sendo entregues os kits.
Gentilmente me informou dizendo que só começaria às dezessete horas. Para quem havia chegado quatorze, um pouquinho a mais ou a menos não faria a menor diferença.
Era a minha primeira meia maratona e isso não abalara o meu bom humor.
Cravado ás dezessete horas, estava lá. Estava ansioso, ou melhor, mais ansioso.
O primeiro passo era identificar a numeração numa relação afixada numa parede.
78 era o meu número.
Devidamente identificado, parti para a fila a fim de retirar o meu tão esperado kit.
- sua identidade e qual o seu número?
Perguntou a simpática moça.
A identidade já tinha nas mãos, pois já havia observado o processo com os que estavam a minha frente e o número disse orgulhosamente.
- número 78
A simpática moça afastou-se do balcão e foi em direção a caixa onde por uma prévia arrumação localizaria o meu kit.
Demorou um pouco verifiquei que ela estava a conversar com uma das pessoas responsáveis pela organização.
As duas partiram em minha direção.
Pensei o que houve?
Com uma voz serena ela me disse:
- a numeração de 0 a 100 são para os atletas do Pelotão de Elite.
- o senhor terá que pegar o seu kit amanhã no hotel onde estão hospedados os demais atletas vindos de outros estados e países que também pertencem ao Pelotão de Elite.
Isso foi o bastante para que as pessoas a minha volta direcionassem todos os olhares em minha direção.
Por alguns instantes me senti um verdadeiro queniano albino.
Sabia que a realidade era outra e que algo havia acontecido para que um pobre mortal já na sua primeira meia maratona, sem nenhum histórico, justificasse tal classificação.
Como ficaria complicado explicar a todos os presentes que tinha acontecido alguma confusão por parte da organização do evento, resolvi sair da loja com a pose de que estava tudo certo, de que realmente eu era um atleta do Pelotão de Elite.
Não precisaria nem dizer que da sexta para o sábado tive dificuldades para dormir.
Imaginava-me no aquecimento correndo entre os atletas dos quais nunca havia presenciado uma chegada ao vivo só pela televisão enquanto que os menos votados estariam depois daquela cerca humana formada por seguranças para que não invadisse a ala do Pelotão de Elite.
Depois da minha ciência de que era elite até pegar no sono, tratei de fazer a divulgação para amigos, parentes, vizinhos e quem mais encontrasse pela frente de que correria a meia maratona da Bahia e que estaria no Pelotão de Elite.
Alguns ficaram supressos, pois nem sabiam que eu corria e muito menos o que era esse tal de Pelotão de Elite.
Amanheceu.
Um momento histórico como esse não poderia deixar de ter testemunhas. Entramos, eu, minha mulher e o orgulhoso filho no carro e fomos rumo ao hotel.
Ele também aproveitando a oportunidade, não poupou esforços em fazer a propaganda entre amigos e colegas do feito do seu pai.
A caminho do hotel só pensava. Deve ter uma comissão para me receber, pois um atleta de elite deve ter um tratamento VIP.
- e esse hotel que não chega!
Finalmente cheguei.
Na frente do hotel o portão de acesso aos carros estava serrado.
Dirigiu-se em minha direção o responsável pela entrada dos veículos.
- bom dia.
Falou o distinto moço.
- bom dia.
- sou da elite.
Completei de imediato.
Parecia que era uma palavra mágica tipo abre-te sésamo.
Prontamente o então serrado portão abriu-se para que a família da elite entrasse.
Saí do carro, percorri alguns corredores, e após algumas orientações tive acesso à sala onde os kits seriam entregues.
Uma bela moça veio em minha direção e aquela altura devido ao meu estado de êxtase, todas as moças eram belas.
- em que posso ajudar?
Disse até então a bela moça.
- vim pegar o meu kit.
Para não parecer arrogante, não mencionei a palavra elite.
Prontamente ela me pediu um momento e foi chamar outra moça que também até então era bela.
- bom dia!
Disse ela.
E ai começou o meu transtorno.
- bem meu amigo.
- houve uma confusão por parte da organização e alguns atletas foram classificados como elite.
-pedimos desculpas pelo ocorrido mais o problema será devidamente resolvido.
Mesmo sabendo que aquela informação era a mais coerente e plausível para justificar a situação, me senti decepcionado.
Respirei fundo, mais não muito, pois já estava e pensando que essa respirada já fosse me fazer falta na corrida de amanhã.
- bem, e o meu kit?
Perguntei secamente.
Serenamente me respondeu a não mais bela moça.
- amanhã o senhor chega mais cedo e antes do início da corrida me procure para lhe entregar o seu kit.
Tentando minimizar a situação, me convidou a participar da reunião onde estavam presentes todos os atletas que faziam parte do Pelotão.
Agradeci, dei uma desculpa que não me lembro qual foi e foi embora.
Não demorou muito para começar as primeiras cobranças.
Ao chegar ao carro:
- cadê o kit?
Perguntou o curioso filho.
Em poucas palavras expliquei o que havia ocorrido e ficou aquele silêncio no carro.
Observei que não houve muita surpresa, pois acho que, quem tinha mais iludido era eu.
A essa altura já estava pensando na noite que havia perdido e que como teria de acordar cedo para pegar o diacho do kit, e o melhor que tinha a fazer era ir para casa dormir.
Não faltaram telefonemas para saber se já havia pegado o kit, se eu cheguei a tirar fotos com os outros atletas, mas a resposta era sempre a mesma, de que estava descansando para corrida de amanhã.
No dia da corrida, como já tinha sido intimado, acordei bem cedo, e talvez, num horário que os verdadeiros atletas da elite ainda estivessem dormindo.
Peguei o meu kit com o numero 1.830 e na hora marca foi dada a largada.
Minha classificação foi 828ª no geral masculino, 140ª na faixa etária de 40 a 44 anos e 30ª na idade de 44 anos. 1.716 participantes concluíram a corrida.
Levei exatos 01h55min34s para completar o percurso.
Na minha chegada pensei sobre tudo que tinha ocorrido e concluí:
Eu também sou do Pelotão de Elite, pois assim como eles, também completei a prova.
É certo que com uma defasagem de tempo. Mais quem liga pra isso.
Por motivos óbvios não presenciei a chegada desses atletas, mas tenho a certeza de que eles não tiveram a recepção de seus amigos e familiares reconhecendo o seu esforço.
A medalha eu guardo com muito carinho, pois teve um sabor muito especial, pois essa foi a minha primeira meia maratona.

Autor: Samuel Moreira